Sobre Biotecnologia Neolítica

Formas de biotecnologia existem desde a “revolução neolítica”, quando humanos começaram o cultivo de diversas espécies de planta, denominado como a primeira revolução biotecnológica. Além de domesticação de plantas e animais, neste período foram acrescentados outras biotecnologias envolvendo microrganismos para a transformação de frutas, cereais e leite para produtos fermentados. Eventualmente surgiram biotecnologias neolíticas que envolveram manejo sofisticado de genomas de plantas, e a descoberta destes processos se confunde com a atual “revolução biotecnológica.”

A importância atual das biotecnologias neolíticas pode ser demonstrada pela pesquisa e extensão do laboratório. Estudos no laboratório de domesticação de espécies agroflorestais para a produção de açaí de Euterpe edulis, e o estudo de plantas comestíveis, como a Xanthosoma poecile, oferecem à sociedade moderna alimentos produzidos em agroflorestas que atendem aos conceitos modernos de uma dieta saudável, com azeites ricos em  ômega-9 (de palmeiras) e carboidratos complexos (de raízes tradicionais da dieta neolítica).

Os estudos com a compostagem representam as biotecnologias tradicionais envolvendo microrganismos. O Método UFSC de compostagem, desenvolvido neste laboratório, é considerado o padrão para a compostagem urbana no Brasil, e foi adaptado do Método Indore, tradição de agricultores indianos. A descrição deste método, por Sir Albert Howard, e o estudo dos microrganismos deste processo por Selman Waksman, formou no inicio do século 20, um diálogo entre pesquisadores em busca por mecanismos microbiológicos que promoviam a saúde ambiental. O resultado desta busca foi a descoberta de streptomicina, a partir de Streptomyces griseus encontrado em composto, e o Prêmio Nobel para Selman Waksman. A compostagem termofílica portanto tem muito a contribuir para a sociedade moderna, e o Método UFSC está sendo aplicado no saneamento municipal em várias partes do Brasil.

A terceira forma de biotecnologia neolítica pesquisada no laboratório se confunde com a biotecnologia moderna. A partir de estudos de variegação de cores no milho crioulo norte-americano, pelo laboratório de Roland Emerson no começo do século 20, foi desvendado a completa plasticidade do genoma do milho, abrindo caminho para novas ferramentas genéticas para a modificação de genomas. Nosso laboratório estuda o manejo desta mesma variegação de cores de milho por agricultores locais, e o uso original para gerar a biodiversidade alélica para a proteção contra insetos e fungos.